Entrevistas

Demian Maia fala sobre sua luta contra Anderson Silva, no UFC 112

Após passar uns dias treinando boxe na Bahia, Demian Maia fez seu último treino em sua academia, em São Paulo, antes de embarcar para San Diego – California, onde irá fazer a parte final da sua preparação com Rafael Alejarra, para sua luta contra Anderson Silva, pela disputa do cinturão do peso médio.

Essa edição do UFC, que irá acontecer no dia 10/04, será um show a parte, já que será a primeira vez que o Ultimate desembarca no Oriente Médio, mais precisamente em Abu Dhabi. E para inovar ainda mais, dessa vez o octágono será ao ar livre. Não vai perder hein!

O site OLutador.com trocou uma ideia com Demian Maia, sobre a luta da sua vida. Se liga aí.

O que você achou de sua última luta no UFC, contra o Dan Miller?

Demian Maia: A luta pra mim foi excelente, como um conhecimento pessoal, porque aconteceu uma coisa inédita. Eu entrei na luta sem ter pressa de botá-lo pra baixo. Eu o botei pra baixo no primeiro round e fiz o meu jogo. Mas quando eu fui pro segundo round, eu percebi que estava seguro em pé, e eu deixei de, pela primeira vez na vida, querer colocar o meu adversário para baixo e eu queria experimentar meu jogo em pé. Eu treinei bastante, fui para Salvador treinar boxe. Então para mim, foi uma evolução pessoal, que eu vi que conseguia ficar seguro em pé. Na verdade eu não fui trocar que nem um louco, eu "brinquei" de controlar a distância, e deu certo. Eu via o soco dele vindo, conseguia sair, o acertei bastante, não me lembro dele ter me acertado nenhum golpe contundente e eu o acertei algumas vezes. Então, apesar dele ser mais alto do que eu e ter mais envergadura, foi uma surpresa agradável e um crescimento pessoal.

Qual a importância de uma disputa de cinturão entre dois brasileiros na principal categoria do UFC para o MMA Brasileiro?
Demina Maia: Não só na minha, mas na do Lyoto e do Shogun também, eu acho que demonstra que a gente tem mais tradição no esporte. Nós estamos a muito tempo nisso, com a família Gracie desde os anos 30, 40 e nós ainda somos os melhores se a gente conseguir manter um mínimo de investimento. Porque os americanos chegaram muito forte, eles têm os melhores eventos e tem dinheiro lá para bancar os lutadores com patrocínio e tudo. Essa disputa só mostra que o celeiro ainda é o Brasil e eu acho que se a gente conseguir puxar mais a mídia para todo tipo de esporte, não só para o vale-tudo e MMA, mas todo tipo que não seja futebol eu acredito que pro Brasil vai ser excelente, que esporte todo mundo sabe, é comum falar, clichê, que tira criança da droga, você serve de exemplo não só para criança como para adulto. Várias pessoas nos EUA, eu recebo carta direto de criança, de adulto falando "por causa de você eu perdi 50kg e fui fazer não sei o que", "por causa de você eu larguei, sei lá, a bebida", "eu fui treinar", "por causa de você eu descobri o jiu-jitsu". Então isso é muito gratificante, eu acho que se a gente investe no esporte a gente ajuda a vida de todas as pessoas com a própria força de vontade delas, além de tirar criança da droga, da marginalidade, esse tipo de coisa.

Como e quando você soube que disputaria o cinturão contra o Anderson Silva?

Demian Maia: Cara eu fiquei sabendo exatamente na sexta-feira após minha luta. Eu lutei no sábado, daí seis dias depois meu manager me ligou e falou: "olha o seu nome está sendo cogitado, o John Silva mandou perguntar se você lutaria, é que tem pouco tempo e ele perguntou se você topa, apesar de acabar de ter saído de outra luta e por ser em Abu Dhabi". Aí eu falei não precisa nem perguntar, se quiser amanhã,  pode falar que eu topo, que agora é o que eu mais quero. Depois de um tempo ele ligou e falou: "é você! Tá fechado. Você vai receber o contrato". Eu fiquei eufórico. Eles falaram, pelo amor de Deus, não fala pra ninguém, não pode sair na mídia. O UFC que tem que falar. A gente confia em você. Eu falei, tranquilo. Cheguei em casa e assinei o contrato. Daí, obviamente, eu não conseguia dormir. Daí, acho que uma e meia da manhã, saiu no site do Ultimate confirmando. Foi muito legal. O Saulo [Ribeiro que estava em San Diego, meu amigo, várias vezes campeão mundial de Jiu-Jitsu] me ligou duas horas da manhã e perguntou: "já conseguiu dormir?". Falei, não ainda não... Foi muito legal, meu manager é um canadense, p Jim Albert. Foi legal, era um trabalho que eu sempre busquei e eu sempre trabalhei buscando isso, e chegou a hora.


...numa matéria da sua primeira luta no Ultimate, você disse que era o seu sonho lutar contra o Anderson?
Demian Maia: Foi na Gracie, uma matéria que escrevi, mas não era lutar contra ele meu sonho. Era lutar pelo título, e eu lembro até hoje. Está até ali na parede, que ela fala assim: "no final, tipo epílogo, eu estou assistindo do corredor". Que foi o que aconteceu mesmo, na minha estréia no Ultimate o Anderson defendeu o título contra o Rich Franklin, pela segunda vez. Ele tinha tirado o título do Rich Franklin, então ele lutou com ele novamente, e ganhou na revanche. E eu fiquei no corredor assistindo, na minha estréia, e eu pensei "é isso que eu quero, ganhar o título um dia!". Eu sou fã dele, do Anderson, mas se o dia que eu chegar lá, e ele estiver lá, eu vou ter que lutar com ele. Eu acabei de perceber isso, é engraçado como as coisas acontecem, parece profecia...

Em sua última entrevista ao site OLutador.com, após a sua derrota para Nate Marquardt, você não tinha provisão de lutar pelo cinturão. Você ficou surpreso com o convite?
Demian Maia: Na verdade, assim, lógico que eu fiquei surpreso. Porque tinham outras pessoas cogitadas, o próprio Vitor. Mas, se você for analisar friamente o peso, eles precisam colocar pessoas rankeadas. Pra disputar o título tem que ser pelo menos rankeada entre os cinco, e eu estou, acho que em praticamente todos os rankings, entre os cinco hoje em dia. E precisa ser uma pessoa, em primeiro lugar, com condições de lutar, que não era o caso do Vitor, nem do Chael que tava muito cortado, depois da luta. Tem que vir de vitória, então já tira o Nate, que seria um cara top 3, top 4 no mundo, mas vem de derrota, que lutou comigo e acabou vencendo, mas ele vem de derrota, ele perdeu pro Chael. Então o que aconteceu, não poderia ser ele, então um conjunto de fatores na verdade. Eu sabia que estava ali, e dependia de um conjunto de fatores, e eu sabia que uma hora ia acontecer, não esperava que fosse logo agora, mas graças a Deus foi.

Geralmente o intervalo de uma luta para outra são maiores, você acha que dois meses de treinamento para uma luta valendo o cinturão é suficiente?
Demian Maia: Olha eu acho que o tempo é físico também mas, ele é muito psicológico. Então o que acontece, quatro meses seria um tempo ideal vamos dizer assim. No meu caso, vão ser oito semanas exatamente, é uma faca de dois gumes, como diria Vicente Mateus "é uma faca de dois legumes", mas é uma faca de dois gumes onde você pode se dar mal ou você pode se dar muito bem. Por um lado se você não fizer uma planilha de treino certinho, você pode chegar no pico antes da hora. Porque você já tá vindo de um pico, deixa cair um pouquinho e deixa subir logo de novo. Se você souber direitinho fazer, eu acho excelente, porque você mantém o ritmo da última luta deixa cair um pouquinho e já entra num ritmo. Então você está num ritmo de luta bom, é lógico que você não vai conseguir fazer isso a cada dois meses, mas num caso assim. Eu vim de uma luta com o Chael, que eu fiquei seis meses até lutar com o Nate, e pro Dan Miller mais cinco meses. Então eu vim com espaçamentos bons, bons treinos e agora um espaço curto. O que não pode acontecer é lutar com o Anderson e depois de dois meses já lutar de novo. Eu acho que ai começa a atrapalhar, num é que vai atrapalhar, mas começa a atrapalhar. Então acho que se acontece esporádicamente, se você souber usar bem, é excelente. Você consegue estar num ritmo de competição, é só saber usar e eu acho que tô com os profissionais certos, então a gente está fazendo um negócio direitinho.

Como tem sido sua preparação para essa luta contra o Anderson Silva, e com quem você tem treinado?
Demian Maia: Tenho treinado com muita gente, muita gente... mas eu fiquei um tempo na Bahia, com o professor Rubinho, que é irmão do Dórea. Porque o Dórea não pode me treinar, porque ele tem uma relação com o pessoal do Anderson, do Rodrigo e do Rogério e eu respeito. Eu acho que ele gosta muito de mim, mas de repente ele sofreu uma pressão daquele lado, então ele preferiu ficar neutro. Eu apóio em qualquer circunstância. Eu tenho meu professor aqui em São Paulo de boxe, que é o André Lopes, tem o Rubinho que me ajudou pra essa luta, todo pessoal de Salvador que me ajudou muito no jiu-jitsu, no boxe tem o pessoal de São Paulo, meus alunos, o pessoal da academia do Telles, a galera de lá que vem treinar, o Claudinho Godói, Murilo Santana, vários top do jiu-jitsu, pessoal do boxe que também vai lá treinar e me ajuda. Tem os meus treinadores todos que, se eu for citar o nome de todos, Vagner Mota do Jiu-Jitsu, Graham Cash, um australiano do wrestling, tem o Anderson aqui de São Paulo do muay thai, tem o Rafael Alejarra de preparação física e aqui no Brasil o Diego Andriello que eles trabalham em conjunto... Tenho até medo de esquecer alguém porque eles se doão tanto pelos seus treinadores que as vezes você tem tantas pessoas te ajudando e as vezes você fala um monte de nome e passa algum batido e, é muito chato, entendeu por isso que as vezes eu prefiro nem citar nomes.

Qual será a sua estratégia contra o Anderson Silva, já que ambos tem estilos de lutas diferentes, apesar dele ser faixa preta de Jiu-Jitsu?
Demian Maia: É, acho que o Anderson é faixa preta de Jiu-Jitsu, eu evolui muito em pé, pelo menos no quesito sobrevivência em pé, para não ser um alvo fácil. Eu acho que eu preciso estar com as minhas entradas bem afiadas de queda, pra conseguir botar ele pra baixo. Não é segredo, todo mundo sabe, e ele também vai querer jogar na distância, se afastar, marcar ponto e procurar, se houver espaço para me nocautear, me nocautear, senão, ganhar por pontos. Então eu não acredito que ele venha com tanta agressividade pra cima, só se ele sentir que eu amoleci, ou alguma coisa assim, tome algum golpe e senti. Eu acho que ele vai ser muito estratégico, então eu tenho que jogar com muita inteligência nessa luta.

Podemos dizer que essa é a luta da sua vida?
Demian Maia: Com certeza, sem dúvida nenhuma que é a luta da minha vida. É o trabalho da vida inteira, eu trabalhei para isso, é isso ai.
e a sua expectativa é...
Demian Maia: Cara, é ganhar... Com certeza, apesar de ser a luta da minha vida, eu não to me colocando a pressão que todo mundo acredita que eu tenho em cima de mim. Eu não vou me colocar pressão, como eu acho que o Anderson também não se coloca, acho que é mais uma luta que eu vou chegar lá, no fim é mais uma luta, e é verdade, no fim é mais uma luta contra um lutador excelente, como vários que tem lá, e é um prazer ir lá lutar. Não me coloco pressão, mas é lógico que sou um competidor e vou dar o meu sangue e a minha vida lá para ser campeão.

Após o UFC 112, você tem uma previsão da sua agenda, do que você pretende fazer?
Demian Maia: Passando essa luta, devo vir pro Brasil um pouco fazer umas coisas, devo ficar um tempo lá fora, um pouquinho nos EUA, fazendo umas coisas que eu tenho que fazer lá, resolvendo umas coisas. Tenho um seminário na Europa, vários nos EUA mas, assim, tenho um amigo meu que é meu agente, que organiza tudo esse negócio de seminário. Eu nem me preocupo, na verdade, hoje em dia eu delego, eu só me preocupo em treinar e lutar, e depois que acaba a luta, ele fala você tem seminário nessa data, tá bom vamos lá...