Entrevistas
Éder Jofre, o eterno Galo de Ouro
Quando liguei na casa dele para marcar a entrevista, me surpreendeu o fato dele mesmo atender ao telefone, fazer brincadeiras, cantar músicas que se referiam ao meu nome e topar logo de primeira gravar comigo na academia em que treina até hoje. Com 75 anos de idade, um pouco esquecido, mas muito disposto, Éder não luta mais. Mas treina Boxe três vezes na semana e quis ir até academia para a entrevista a pé. São quatro quarteirões de ladeira e, enquanto meus pés doíam, ele ia a ritmo de corrida, super disposto e sem ofegar nem um segundo.
Jofre, até hoje é o maior pugilista que o Brasil já teve. É Bi Campeão Mundial e conheceu grandes nomes do Boxe internacional como Mohamed Ali, George Foreman, entre outros. Quando questionado porque não quis seguir carreira internacional e ganhar mais dinheiro do que ganhava, Jofre foi direto. "Meu pai era meu treinador, nasci no meio do Boxe na periferia de São Paulo, ele me treinou a vida inteira até falecer sem ver meu segundo título mundial. Jamais o largaria para treinar com outra pessoa, mesmo que isso rendesse milhões", desabafou.
O expugilista foi astro profissional nas décadas de 60 e 70, não conseguia andar na rua de tanto assédio que sofria. Disse que não se incomodava com tanta gente em cima, mas falou que a mídia era um pouco chata em seus momentos particulares. Já dos fãs ele tinha orgulho e parava qualquer coisa que fazia para atendê-los. Na época, o Boxe era um esporte muito maçado pela mídia. As lutas passavam na TV ao vivo e as pessoas se reuniam nas casas dos vizinhos para assistir juntas, torcer, vibrar e sofrer.
Questionei o fato do Boxe não ter mais essa ascensão e Éder acredita que hoje faltam técnicos bons, falta "o cara" que surpreendemente chega e acaba com todo mundo no ringue. Segundo ele, falta personagem com histórias e vitórias interessantes. Ouvi o que ele disse calada porque para mim, a queda do assédio ao Boxe se deve não a pugilistas bons, mas a falta de investimentos como patrocinadores e colaboração do Ministério dos Esportes que hoje acha que o futebol já trás todo o lucro necessário e milionário que eles precisam.
A entrevista com Jofre acabou se tornando um bate-papo muito animado. Ele esquece as coisas recentes, perguntou meu nome mais de dez vezes, mas fez questão de ajudar a arrumar o cenário da gravação. Subiu escadas, carregou cadeiras, sugeriu plano de fundo e a forma como ele ficaria sentado. Com um papel na mão ao qual lia o tempo todo, pude notar que ali estava escrita a sua história, suas vitórias, sua vida resumida para que ele não se esquecesse de falar. Porém, ele lia o papel quando eu perguntava sobre coisas recentes. Pois quando ele falava do momento em que foi o "galo de ouro", a memória voltava e ao invés de um senhor com cabelos brancos em minha frente, via o grande lutador de 30 e poucos anos em grande forma, assediado nas ruas e idolatrado por todo o Brasil.
Finalizei perguntando o que durante toda a sua carreira mais o marcou, e para a minha surpresa, ao invés de falar sobre ser ídolo, ele respondeu com muitas lágrimas nos olhos, as únicas que pude ver durante toda a entrevista. "Foi quando meu pai já havia falecido e eu fui Bi Mundial, meu irmão subiu no ringue e falou "meu irmão é campeão do mundo, meu irmão Éder Jofre é o melhor do mundo", finalizou emocionado. Após a morte do pai, o irmão assumiu os treinos de Éder, e a aposentadoria veio quando ele recebeu a notícia da morte do irmão. Jofre se aposentou em plena forma e tem em seu cartel profissional 78 lutas, 72 vitórias, 50 nocautes e apenas duas derrotas. O eterno dos ringues!
Anna Carolina da Ponte Ribeiro
Jornalista Esportiva
MTB: 63.268/SP
Colaboradora OLutador.com