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22/10/2011 - 23h39

Dana White conta tudo!


Por: Cláudia de Castro Lima - 
Editora: Revista VIP e Blog da Luta VIP
Foto: Mauro dos Santos

Se você leu a revista VIP de outubro, com Marjorie Estiano na capa, viu que o todo-poderoso do UFC, Dana White, deu uma entrevista exclusiva para a gente, que eu usei em partes para escrever um perfil sobre ele. E viu que ele me convidou para assistir à luta principal do UFC, a de Anderson Silva contra Yushin Okami, da cadeira dele na Arena HSBC. 

Vou colocar aqui, a quase íntegra de minha conversa com Dana, o cara que enxergou futuro, há 10 anos, em um evento semifalido, a ponto de persuadir dois irmãos ricos, seus amigos de infância, a comprá-lo. Conheça um pouco mais sobre o que pensa o presidente do evento que mais cresce no mundo.



Sobre a descoberta da semi-falência do UFC
 

Estava em uma batalha enorme que durava quase um ano a respeito do contrato de Tito Ortiz, de quem eu era empresário, quando soube que o UFC estava mal de dinheiro [em 2001]. E eu lutava jiu-jítsu e era apaixonado pelo esporte. E comecei a conhecer vários atletas e fiquei impressionado com o nível deles e percebia que aquilo tinha potencial para ser grande. No momento em que estávamos negociando, liguei para Frank e Lorenzo[Fertitta], que eram meus amigos e tinham um cassino em Las Vegas. Um mês depois nós éramos donos da empresa.

Sobre o declínio do boxe e a aposta no MMA 

Eu sempre achei que esse negócio seria grande. Estou envolvido com luta desde que tenho 19 anos [hoje ele tem 42]. Então eu sabia que o boxe estava em declínio, não era mais como havia sido antigamente. O boxe, em primeiro lugar, não queria mais saber dos fãs. Eles não se importavam com o que os fãs queriam, só se preocupavam com quanto dinheiro poderiam ganhar. Mesmo estando envolvido com o boxe, eu queria fazer algo que fosse mais voltado para os fãs, algo que eles quisessem ver. Em 50 anos, o boxe nunca mudou. Nunca mudou a produção, nunca ligaram para o local em que o evento seria feito, nunca ligaram para o que eles colocariam no local do evento. Só se preocupavam com a TV, não com quem comprava os ingressos. Só que quem compra ingresso gasta mais dinheiro do que quem assiste o boxe pela TV. E ninguém investia dinheiro no futuro do boxe. Eu sabia que poderia ser maior e melhor do que aquilo.

Sobre quem manda na Zuffa, a dona do UFC 

Nós [ele, Frank e Lorenzo] discordamos em algumas coisas. Eles são donos da empresa mais do que eu, mas não é assim que dirigimos a Zuffa. Em primeiro lugar, se um de nós está realmente apaixonado por alguma coisa, dizendo que é desta ou daquela forma que tem de ser feito, essa pessoa que vence a discussão. Mas nunca houve uma ocasião em que nós realmente discordamos completamente. Se algo é mesmo importante para um de nós, então vamos fazer aquilo. Eu faço toda a produção dos UFCs, o que acontece dentro do evento, a transmissão de TV, é tudo comigo. Lorenzo e Frank são dois grandes homens de negócio. Eu sou o cara criativo.

Sobre o tamanho do UFC 

Eu nunca pensei em ser um homem de negócios. E nunca penso sobre como é isso hoje. Eu apenas faço o que amo e as coisas acontecem. As pessoas sempre me dizem: “Meu Deus, como o UFC é grande!” Mas, da forma em que olhamos para ele, ainda há muito trabalho a ser feito. Acreditamos que o UFC é a franquia de esportes mais valiosa do mundo, porque acreditamos que é o único esporte além de futebol que tem potencial de ser global, e nós estamos provando isso.

Sobre o mercado no Brasil 

Isso que aconteceu no Brasil [UFC 134] é só o começo. O Brasil vai ser um mercado enorme. Nós vamos fazer lutas por todo o país. E, mais do que trazer nosso negócio e algumas lutas para o Brasil, estamos conversando sobre projetos sociais aqui. Os mercados que nos interessam são Rio, São Paulo, Curitiba, Manaus e Salvador. Não sei exatamente como vai funcionar, ainda estamos discutindo. Mas nós provavelmente vamos fazer um evento por ano no Brasil. É um mercado fantástico e ainda estamos pensando em como fazer negócio por aqui. Só sei que deveria ter feito o UFC Rio em um lugar maior. 

Sobre a importância da luta em comunidades carentes 

A luta, você sabe, dá poder a você, não de uma forma violenta, mas dando autoestima e muitos valores, como a importância do trabalho árduo. Quando você vai à academia e leva chute no traseiro por uma hora e meia, você vai embora exausto. Você não quer se meter em encrenca. Quer apenas ir para sua casa, descansar e poder voltar para a academia no dia seguinte. As crianças, em áreas pobres, não têm muita coisa e precisam ter um objetivo e um sonho. Dentro da academia de luta eles começam a trabalhar e aprender. O treinador diz: “Você foi muito bem hoje, foi um bom dia, você aprendeu algo. Amanhã pode fazer ainda melhor”. Essas crianças, em seu cotidiano, não vêem um futuro. E muitas se envolvem com drogas, com crimes, seus ídolos são os traficantes. “Você quer dizer que eu posso treinar, vir aqui todo dia e ficar muito bom? E eu posso ser famoso em todo mundo, não apenas em minha comunidade? Tem mais futuro nisso do que em envolver-se com drogas e crimes!” E quem não entende a luta não entende isso. Eu sei disso desde que tenho 19 anos. Por isso quero fazer algo social aqui no Brasil também.

Sobre o contrato com as TVs brasileiras 

Nós estamos conversando com todas as emissoras. Por alguma razão, a Globo havia dito que não está preparada para nos colocar em canal aberto [a entrevista foi dada antes da divulgação dos índices de Ibope da RedeTV!, que bateu recordes de audiência com a transmissão ao vivo do UFC Rio]. Eu acho que eles vão mudar de ideia logo. Na RedeTV! tem muita gente bacana, gosto muito deles. Para crescer no Brasil, o MMA tem que estar em TV aberta. E estamos trabalhando nisso.

Sobre uma cláusula do contrato da Zuffa 

Se nós três não concordamos com alguma coisa, deve haver uma luta de jiu-jítsu entre Frank e Lorenzo e eu sou o árbitro. Se eu discordar deles, não sei o que deve acontecer[risos]. Mas essa cláusula é absolutamente verdadeira, está em contrato, é 100% verdade.

Sobre o que a luta deu a ele 

Habilidades comuns a todos que treinam esportes de combate. Disciplina, trabalho duro. Amo esportes de combate. Gosto de todo tipo de luta. Ontem tive aula de judô aqui. Como eu disse antes para você, a luta te deixa muito poderoso. Quando você me diz que faz muay thai e ama, eu sei que tipo de pessoa você é. Você vai para o treino de muay thai e leva um chute, essa merda não é boa, machuca. Mas no dia seguinte você volta lá para ser chutada de novo – e eu sei que tipo de pessoa você é para voltar lá e fazer isso de novo. Eu sei que tipo de pessoa tem que ser para fazer isso. Este é o meu tipo de pessoa, não tenha dúvida sobre isso.

Sobre o futebol 

Não gosto muito de futebol. Não sou um cara de esporte, sou um cara de luta. Acredito que vamos ser tão grandes quanto o futebol aqui no Brasil, ou até maior. O futebol aqui é muito grande. Mas vou te dizer o que eu acredito. Não importa sua cor, de que país você é, que língua fala, somos todos humanos e a luta está em nosso DNA. Muito mais do que chutar uma bola. Olhe lá embaixo [aponta a praia de Ipanema], dá para ver um monte de gente jogando futebol, outros surfando. Mas se alguém começar a brigar, todo mundo vai correndo para lá. Não acha? É de nossa natureza. Eu não tenho números nem estatísticas para provar isso. Mas, antes de um cara chutar uma bola, antes de arremessar uma bola no meio de um aro, alguém deu um soco. E todos que estavam em volta pararam para olhar. O primeiro esporte criado no mundo foi a luta. 

Sobre conciliar malhação com a rotina de homem de negócios 

Tenho 42 anos e faço boxe todos os dias, além de academia. Eu viajo muito. Faço o suficiente para ficar em forma e não me machucar. Eu malho, tento estar em forma, mental e física, mas eu viajo tanto, você não pode imaginar o quanto… Ano passado, passei mais tempo voando, no ar, do que em terra firme. Se eu não estiver em forma, esse tanto de viagem vai me matar. Duas funcionárias viajam comigo para cuidar de tudo: fazem minha mala, me fazem tomar minhas vitaminas, tratam de fazer com que eu malhe, fazem todas as minhas coisas. É um trabalho se manter saudável viajando tanto. Faço o possível, tudo o que posso para ter uma vida normal e ficar em casa o máximo de tempo que consigo. Isso significa quase nada, mas faço o melhor que posso.

Sobre tentar ter rotina normal

Uma coisa que faço questão quando estou em casa é levar meus filhos para a escola diariamente, não importa quanto eu esteja ocupado. Quando não tenho luta numa determinada semana, passo a semana inteira com eles, fazendo o que eles querem fazer. Eu tiro duas ou três férias por ano. Este ano consegui dez dias no verão. E vou onde eles querem. Queria mesmo era ficar em casa nas minhas férias, mas a gente viaja para onde eles querem.

Sobre a vida de milionário

Eu não penso em minha vida de milionário. A gente não pensa nisso, se ficar pensando fica louco. Eu só faço meu trabalho. Se eu não voasse em jatinho não conseguiria fazer tudo o que faço. Se dependesse da aviação comercial, seria impossível. Não daria. Quando se tem uma companhia global como esta, temos que ir para Canadá, Brasil, Inglaterra, Alemanha, Austrália, Oriente Médio. Estou sempre viajando para esses lugares, sem contar minhas viagens dentro dos EUA. Tudo sempre parece mais glamuroso quando é visto de fora. Aposto que quando as pessoas sabem que você é jornalista ficam falando: “Nossa, você fez isso, falou com aquela pessoa e tal…” E tudo parece muito mais glamuroso do que você enxerga, do que é de verdade.

Sobre as críticas em relação à violência no MMA

Já não ligo mais para quem faz cruzadas dizendo que o MMA é muito violento. Isso não me preocupa mais. O negócio ficou muito grande para me preocupar com isso. Nunca, nem quando o UFC era vale-tudo, houve algum evento em que alguém tenha tido um ferimento realmente grave. Se as pessoas fizerem o dever de casa e entenderem direito esse esporte, elas vão perceber que nada disso é verdade.

Sobre a parceria entre lutadores e clubes de futebol 

Acho maravilhosa. Porque todas as pessoas que torcem para esses times e gostam desses esportes vão começar a olhar para a luta. Anderson Silva é o melhor lutador do mundo e provavelmente o melhor de todos os tempos, todos os caras dos outros esportes o respeitam. Da mesma forma, os lutadores gostam de futebol, torcem para os times. É um respeito mútuo. Me deixa feliz ver todos os outros grandes atletas dando aos atletas o respeito que eles merecem. Reparei que aqui há rivalidades entre os times. Mas veja, por exemplo, Vitor Belfort, que é um ótimo lutador e muito popular aqui há muito tempo. E tem o Anderson Silva, que é um ídolo mais recente. E as pessoas chegam para mim e dizem: “Mas você não vai fazer um rematch entre Vitor e Anderson?”, ou “O Vitor merece um rematch”, ou “Anderson vai acabar com o Vitor”. Então isso já existe aqui. Tem gente que gosta do Vitor, tem gente que gosta do Anderson.

Sobre as marias-tatame

Deve haver algumas groupies de MMA que não querem apenas autógrafos e fotos dos lutadores, que querem também sexo. Mas eu não as conheço [risos].

Sobre as polêmicas com os seguidores do Twitter 

Fico ligado no Twitter mesmo. Se alguém tuíta que está com o ingressos para ver o UFC e não está conseguindo entrar na arena, eu mando resolverem. Se alguém reclama do sinal da transmissão, eu vejo o que está acontecendo. Posso resolver coisas pelo Twitter. Mas outra coisa legal do Twitter é que, quando as pessoas me falam merda, posso falar merda para elas de volta [risos]. Às vezes me falam coisas duras e eu concordo com as pessoas. Mas tem uns palhaços que vem e me falam besteira. Vão ouvir também. Por exemplo, se alguém chegar aqui e disser: “Dana, você é um babaca, eu detesto esse esporte idiota”, sabe o que eu vou falar? “Foda-se, sai daqui”. Se alguém falar para você que você só escreve besteira, que não sabe por que a VIP te contratou, que você escreve mal, o que você vai dizer? “Foda-se você, não leia minhas matérias, vai ler outra coisa”. É o que eu faço. Acho que a gente tem de ser a mesma coisa que é na vida nas mídias sociais. Eu sou no Twitter do mesmo jeito que sou na vida.

Sobre o livro que sua mãe escreveu, dizendo que ele ficou rico e a abandonou 

Não li o livro da minha mãe, um advogado leu. É uma daquelas coisas que… [para e pensa]Primeiro: ela diz que eu parei de falar com ela quando fiquei rico e famoso, mas eu não falava com ela bem antes disso. Minha irmã não é rica nem famosa e não falava com a minha mãe também. E ela não escreveu um livro sobre minha irmã. Eu sei que ela está tentando fazer dinheiro com esse livro, mas nós já não tínhamos um relacionamento antes disso, antes do UFC. Dizer que não fiquei chocado quando soube do livro? Fiquei e não fiquei. Não imaginei que fosse acontecer isso, mas, quando aconteceu, não me espantou. Ela está tentando fazer algum dinheiro, porque está sem grana. Se ela conseguir com o livro, sorte dela. É assim, fazer quê?